sábado, 1 de dezembro de 2012

Salão de cabeleireiro

Existem coisas nessa vida que você deve fazer apesar de não gostar nem um pouco. Cortar o cabelo, para mim, é uma delas.

Gosto do meu cabelo grande. Não é nem por achar bonito ou estiloso ou qualquer coisa do tipo. É mais por sentir a natureza me abençoando com cabelo, é um sentimento de abundância. O problema é que todas as outras pessoas não gostam do meu cabelo grande e por isso, reclamam por ele estar grande. A encheção de saco é tão grande que o prazer de sentir a benção da natureza é menor do que o prazer de não ter mais que ouvir a maldita frase: "Por que você não corta esse cabelo?"

As pessoas que não tem a incrível habilidade de cortar o próprio cabelo optam por profissionais que façam isso por elas. É o meu caso. Corto o cabelo num salão de cabeleireiro unisex que é mais frequentado por mulheres, porque mulheres frequentam bem mais salões de cabeleireiro do que homens.

Normalmente cortar o cabelo é algo rápido. Eu ligo antes pra saber quando as mãos da experiente cabeleireira estarão livres, marco o horário, vou até o salão, ela corta meu cabelo, eu pago e vou embora. Não dá tempo de acontecer nada de mais.


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Nessa manhã de sábado fui acordado por minha mãe que dava a notícia: "A cabeleireira já está te esperando"(minha mãe é a responsável por 60% das reclamações acerca de minhas terminações capilares). Esbravejei uns palavrões em russo e fui lavar o rosto para seguir meu caminho rumo ao desespero.

Engraçado como o trajeto até um lugar que você vai para fazer algo que não quer fazer é tão longo... Reparava em cada detalhe do movimento da rua, fiz os trezentos metros até o salão virarem um quilômetro.

Enrolar e andar devagar não fizeram com que meu cabelo se cortasse sozinho, tive que encarar a dura realidade de um salão de cabeleireiro. Havia uma pequena fila de espera composta por senhoras e sonhoritas que fizeram questão responder meu "bom dia" com olhares de estranheza. A experiente dona do salão estava fazendo alguma coisa com algum creme no cabelo de uma cliente.

Esperar normalmente é ruim, mas esperar num ambiente hostil é muito pior. Tive que esperar cerca de UMA MALDITA HORA apenas com revistas femininas disponíveis para leitura de distração. Claro que não cheguei a esse nível, tenho um arsenal de pensamentos para esse tipo de situação. O problema é quando tem um ruído externo que atrapalha os pensamentos.

Disparava um gatilho de pensamento distrativo: "Por que vivo?" e um ruído atrapalhava minha filosofia: "MENIIINAAA, você não sabe quem foi sequestrada!".

Fiquei espantado com a capacidade de falar merda que aquelas senhoras e senhoritas tinham.

Elas falavam sobre a futilidade da vizinha, sobre quem a filha da outra vizinha tinha ou não convidado pro casamento, sobre os últimos sequestros e invasões a domicílio que tinham acontecido nos arredores da cidade, sobre as notícias de celebridades, sobre as notícias de violência, sobre as notícias de violência com celebridades... Toda essa MERDA sempre bem temperada com as opiniões pessoais das senhoras e sonhoritas.

Tortura.

Tudo que é bom passa, tudo que é ruim passa. Até uva passa. A hora passou. Chegou minha vez de ser atendido.

Meu cabelo foi cortado, senti aquela tristeza de sempre e fui embora deixando meu dinheiro e parte da minha alma.
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Maldita sociedade.
(eu tinha que culpar alguém)